terça-feira, 10 de abril de 2007

Cientistas tentam salvar diabos-da-tasmânia de extinção

Praga dos diabosCâncer facial de marsupial australiano pode ser infeccioso, sugere estudo
O diabo-da-tasmânia (Sarcophilus harrisii) é um marsupial carnívoro endêmico da Tasmânia, ilha situada no sudeste da Austrália (foto: Christo Baars)
Um tumor transmitido por mordidas: esta é a melhor descrição de um mal que acomete a população de diabos-da-tasmânia em mais da metade da ilha australiana na qual esse marsupial carnívoro pode ser encontrado. A doença já era conhecida desde 1996, mas seu aspecto infeccioso só foi sugerido em um estudo realizado por duas pesquisadoras do Departamento de Indústria Primária, Água e Ambiente da Tasmânia e publicado hoje na revista inglesa Nature.

As cientistas analisaram amostras tumorais de 11 diabos-da-tasmânia que habitavam a parte leste da ilha e descobriram aberrações cromossômicas idênticas em todas elas. Embora essa espécie possua 14 cromossomos (12 autossômicos e dois sexuais), as pesquisadoras constataram que as duas cópias do cromossomo 2, assim como uma do 6 e o braço longo do 1 estavam ausentes nas células tumorais. Além disso, elas apresentavam quatro novos cromossomos.

“Quando percebi, no segundo animal analisado, que os rearranjos cromossômicos eram idênticos aos do primeiro, embora os espécimes fossem de sexos diferentes, comecei a suspeitar da transmissão por infecção”, conta à CH On-line a geneticista Anne-Maree Pearse, uma das autoras do artigo. O indício mais forte veio quando elas identificaram, em uma célula normal de um dos animais, uma inversão no cromossomo 5 que não existia nas células do câncer. Ou seja, o mal não tinha origem naquele indivíduo.

O tumor facial do diabo-da-tasmânia impede que ele se alimente e já matou 80% dos animais infectados. (foto: C. Baars)A doença de tumor facial ataca a cabeça e o pescoço dos diabos-da-tasmânia, podendo deslocar dentes e invadir globos oculares, e impede o animal de se alimentar. Pearse acredita que os tumores devem se desenvolver a partir de células transferidas por mordidas durante as lutas entre os animais ou por ferimentos provocados por lascas de ossos que os diabos dividem e comem. “As células são implantadas, geralmente, sob a mucosa do lábio, no palato mole ou sob a pele das bochechas e da face, onde se proliferam”, explica.

O desenvolvimento da doença seria facilitado pelo alto grau de parentesco e pela baixa diversidade genética da população de diabos-da-tasmânia, o que diminuiria a resposta imune contra as células tumorais. Um forte argumento a favor dessa hipótese é o fato de os animais da parte oeste da Tasmânia, geneticamente distintos dos seus ‘primos’ orientais, não terem apresentado sinais da doença até hoje.

Pearse e Kate Swift, a outra autora, pretendem agora fazer uma análise genética e imunológica mais completa dos animais infectados. “Embora os resultados não apontem uma cura, eles indicam que a remoção dos animais doentes pode ser uma maneira de conter a doença, que já matou 80% dos espécimes infectados”, conclui a geneticista.
Fred FurtadoCiência Hoje On-line02/02/2006

tb na revista vetpathology
site bbc


** A revista Nature tem um site onde se pode encontrar PodCasts

Nenhum comentário: